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sábado, 5 de fevereiro de 2011

Onde foi parar o perfume?

Especialistas tentam conter pragas nas rosas sem pesticidas, mas sacrificam a fragrância




Vista do Peggy Rockefeller Rose Garden, onde 43% das flores estão sendo tratadas com métodos naturais contra pragas. Foto: Tony Cenicola/NYT







Exatamente 43% das rosas do Peggy Rockefeller Rose Garden, no Jardim Botânico de Nova York, no Bronx, viverão sua hora da verdade nas próximas semanas. Nos primeiros dias do verão no Hemisfério Norte, o curador Peter E. Kukielski e sua equipe deixaram de borrifar pesticidas nas plantas, muitas das quais são novas espécies híbridas desenvolvidas para sobreviver, e até florescer, sem a necessidade de tais produtos. "Nunca conheceremos sua verdadeira resistência às pragas até o dia em que pararmos de borrifar o veneno", disse Kukielski.






Mas como esse é um jardim de exposição, o restante da coleção, que inclui mais de 600 variedades, foi borrifado para combater pragas. "No momento, temos uma explosão de ácaro rajado provocada pelo clima quente e seco", disse o curador.






O perfume de uma rosa é uma droga poderosa, mas, se tivermos de borrifar pesticidas nela para mantê-la viva, será que a fragrância vale o preço? Em 2007, Kukielski renovou a coleção como parte de uma reforma do jardim de rosas que incluiu um novo sistema de drenagem, nova terra e um sistema de irrigação a gotas. Na ocasião, ele removeu 400 plantas que não correspondiam a seus critérios de beleza, florescimento e resistência às doenças, e acrescentou 1.700 espécies.






Agora ele tenta conduzir o acervo histórico de quase 3.700 plantas pelo acidentado caminho da consciência ambiental. Essas novas rosas resistentes às pragas são capazes de sobreviver à mancha preta e ao oídio sem inseticida, e portanto são puras o bastante para serem cheiradas por um bebê. O problema é que poucas delas apresentam perfume.






No jardim de Kukielski há rosas exuberantes como a Rosanna, uma trepadeira cor-de-rosa, a Corsária Vermelha e a Amadeus, todas desenvolvidas pela Kordes, cultivadora alemã que parou de usar pesticidas na década de 1990. "Descobri que as rosas Kordes apresentadas depois de 2000 são muito superiores em termos de resistência às doenças", disse Kukielski, que também trabalha com a linha de rosas Earth-Kind, selecionadas pela Universidade Texas A&M, que as cultiva ao natural há 10 anos sem recorrer a pesticidas e à retirada de ervas daninhas. Elas recebem água ao longo do primeiro ano, depois disso, cabe à chuva mantê-las úmidas.






O começo da transformação. Foi durante a louca busca pelas grandes flores perfumadas, iniciada no fim do século 19 com as primeiras híbridas perpétuas e perseguida até hoje, que a rosa perdeu sua resistência às pragas. "A composição genética começou a apresentar um desequilíbrio", conta Kukielski. A rosa ideal americana combinava com os gramados perfeitos que também eram submetidos aos fertilizantes e pesticidas, pois a maioria das pessoas não se preocupava com a possibilidade de elementos químicos chegarem aos lençóis freáticos.






Mas não se pode ter tudo ao mesmo tempo. Na busca por uma maior resistência às doenças e um florescer constante, o gene do perfume muitas vezes se perde. "Acho que encontraremos uma solução para isso", disse o curador. "Mas, no momento, o perfume é menos importante do que a resistência às pragas e o florescimento contínuo." Tradução de Augusto Calil

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